A Companhia Nacional de Bailado iniciou a sua Temporada de 2011-2012 com um desafio lançado a Paulo Ribeiro para a criação de uma nova peça coreográfica inspirada na obra cinematográfica do realizador russo Andrei Tarkovsky (1932-1986), considerado por muitos como um dos melhores cineastas do séc. XX. O resultado foi uma narrativa poética que fala do dom do sacrifício, "da capacidade de abdicar de si próprio por causas maiores", sintetiza o coreógrafo Paulo Ribeiro. Intitulada “Du Don de Soi”, a peça está em cena esta semana no Teatro Camões, em Lisboa, e insere-se no Festival Temps d’Images, evento anual transdisciplinar que estimula o diálogo entre as artes performativas e as imagens em movimento, e onde as fronteiras entre as várias artes se tornam na própria matéria de criação artística.
Os figurinos são da autoria do designer José António Tenente, para quem o universo de Tarkovsky se revelou extraordinariamente inspirador. “O cinema de Tarkovsky é pleno de imagens fortes e marcantes. Os seus filmes gravam-se na memória. Espiritualidade, religiosidade, introspeção, silêncio, água, ruína…
Espero ter impregnado os figurinos com pouco de tudo isto e aliá-lo à fluidez e delicadeza do movimento. Trabalhar com o Paulo Ribeiro e fazer parte desta equipa artística foi uma felicidade. Admirar o momento da criação, as dúvidas, as opções, os caminhos…e integrá-los a cada passo no desenvolvimento do meu trabalho. O desafio adicional: vestir um grande elenco com 36 intérpretes quase sempre em palco.”
Para o coreógrafo Paulo Ribeiro, “Du Don de Soi” é um recontro com os filmes e os escritos de Andrei Tarkovsky, para quem a poesia era uma concepção do mundo e que comparava o seu trabalho ao de um escultor que, “guiado pela visão interior da sua obra, elimina tudo o que não faz parte dela”. “Penso que a forma mais interessante de encarar esta obra sobre Tarkovsky é a de ser fiel à sua dimensão poética, mais do que debruçar-me sobre um filme ou outro. Mais do que utilizar citações de imagens ou ainda de universos decalcados. O caminho deverá ser assumido no sentido de uma coreografia com grande dimensão, humana, espiritual e orgânica. Assim como um movimento que se vai criando cheio de suavidade e verdade, algo que nos move, que nos transporta e que visto do exterior só poderia ser daquela forma. Uma coreografia da verdade, que acontecendo…só poderia ser assim! (…)”, afirma Paulo Ribeiro.
Depois da estreia em Lisboa, “Du Don de Soi” será apresentado também no Porto, no Teatro Nacional de São João, a 11 e 12 de Novembro, e em Viseu, no Teatro Viriato, a 20 e 21 de Janeiro de 2012.
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