Em 1998, participa na 5ª edição do concurso Sangue Novo, em parceria com Pedro Cruzeiro. Três anos depois, volta a apresentar o seu trabalho na 7ª edição do mesmo concurso, desta vez a título individual. Após um estágio de seis meses na marca Bless, em Berlim, e de alguns trabalhos de produção para a revista Dependente - suplemento do semanário "O Independente" - Sara Lamúrias dá início a um projecto próprio, ao qual chama “aforestdesign”.
ModaLisboa - O que pensa ser fundamental na formação de um designer de moda?
Sara Lamúrias - Acho que o mais importante é a formação e a forma como nos dedicamos. A formação pode ser a vários níveis, pode ser mais teórica ou mais prática, mas o fundamental é a forma como as pessoas se envolvem no processo de trabalho. O que sinto no meu trabalho é que estando a seguir a direcção correcta, a formação é relativa. Pode ter-se muita formação e não se fazer um trabalho muito interessante ou podemos ter pouca formação e conseguir coisas fantásticas. A formação abre-nos caminhos mas é relativa.
ML - Como é que as suas próprias experiências afectam o seu trabalho como designer?
SL - Afectam muito, como é natural. Tudo o que se passa à minha volta, como pessoa sensível que sou, reflecte-se no meu trabalho e normalmente são pontos de partida para depois seguir caminhos específicos, de procura, de investigação e experimentação. De uma forma geral, eu deixo-me colocar em posições em que sinto que vou ser influenciada, não vou à procura de uma coisa exacta, mas a minha postura, a minha atitude é nesse sentido: de estar atenta, de procurar sempre coisas diferentes. Estou sempre a trabalhar a minha sensibilidade.
ML - O que privilegia numa colecção:
- O processo criativo ou o produto final?
SL - O produto é super importante para mim, mas o que me apaixona é o processo criativo. Confesso que chegar ao produto final é muito estimulante, mas o processo de criação é uma aprendizagem única e isso é muito gratificante.
- Padrão ou Forma?
SL - Forma.
- Cor ou Textura?
SL – Textura.
- Verão ou Inverno?
SL - Inverno. Para viver gosto muito do Verão, mas para desenhar prefiro o Inverno, porque deixa mais espaço para as formas, para as texturas. Talvez por viver em Portugal, eu procuro muito brincar com a forma e no Verão sinto que tem de ser tudo muito mais despido, muito mais leve e isso limita-me muito.
ML - Fale-nos um pouco da exposição que vai apresentar hoje. Porque é que optou pelo formato de exposição e não de desfile?
SL - A razão que me levou a optar por uma exposição já me acompanha há algum tempo. Eu gosto mais de trabalhar peças do que coordenados, trabalhar mais o objecto do que o look, logo uma exposição é sempre mais interessante para mim. Depois, é muito importante este modo de enquadrar as peças num espaço e onde há uma folha de sala e tudo está pensado no sentido de um discurso e não de um momento efémero como o da passerelle. Assim, as pessoas têm algum tempo para verem e entenderem as peças. Já há algum tempo que queria fazer uma instalação e a oportunidade surgir agora.
Qual o conceito que está por detrás da mesma?
SL - O título - “I am a strange loop” – é retirado do livro de Douglas Hofstadter. Senti necessidade de entender o que se estava a passar comigo enquanto designer e comecei a pensar em linhas que definem o meu trabalho e, por acaso, encontrei a resposta através de Lewis Carroll. Acho que o meu trabalho nos últimos anos tem algo a ver com a Alice no País das Maravilhas, onde os animais são objectos e isso tem um pouco a ver com o trabalho que tenho desenvolvido. Através deste autor comecei a ler sobre coisas do seu quotidiano e do seu trabalho e da forma como o processo criativo afecta as pessoas e fiquei muito envolvida na relação entre o artista e o público. Aí comecei a entender o meu processo e a questionar-me porque é que eu visto e gosto de vestir pessoas? Podia ser escultora, mas de facto acho que o vestuário ocupa um espaço muito íntimo de uma pessoa, dá-lhe uma vida muito própria, comunicar comigo. Por um lado, é muito conceptual, mas depois é design porque eu também penso numa pessoa e é essa troca que me entusiasma! Nesta colecção trabalhei 4 vias: o reflexo, a ideia continuidade, soul charts, que tem a ver com a forma que o nosso trabalho vai adquirindo. As peças têm texturas, têm padrões, mas os padrões vão mudando de textura, ou seja é o mesmo padrão mas com diferentes interpretações. As outras peças funcionam um pouco como um reflexo, um espelho, o modo como as ideias passam entre o criativo e o público. A colecção é essencialmente sobre essa relação.
EXPOSIÇÃO NO MUDE - MUSEU DO DESIGN E DA MODA
Sem comentários:
Enviar um comentário